Os anos de 1960s foi marcado pelo movimento Jovem Guarda na música brasileira. Fenômeno radiofônico nas cidades paulistanas e cariocas, onde Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléia protagonizaram os sucessos de uma geração influenciada pela ideologia de "Paz & Amor", oriunda dos movimentos de resistência no Reino Unido e Estados Unidos, e comercializada entre jovens de classe média brasileiros. Os temas circulavam entre amor, amizade e curtição. Um contraponto aos interesses dos compositores do que se - vulgarmente popularizou - como "velha guarda".
Menina de Lourdes foi uma estrela efêmera desta "velha guarda", esquecida entre os botecos de hoje em dia. Amor e solidão são os assuntos de maior relevância. A poética desses artistas circulava-se na atmosfera cinematográfica americana dos anos 1950s. Exemplo disso foi a gravadora Continental Discos, que desde a década de 1930s realizou diversas regravações de canções internacionais. A intenção dos empresários era popularizar os ritmos exteriores com letras em português. Reproduzindo modelos de sucesso empresarial na indústria fonográfica e radiofônica internacional.
Menina de Lourdes nasceu nesse período "mágico do cinema", em 1941 na Gália Paulista - São Paulo, na região de Marília. Lá, ainda na infância, começou sua carreira artística, e já demonstrava interesse na música. Posteriormente, quando adolescente, começou a cantar com o Conjunto Três Américas e não parou mais até seguir carreira solo. Menina ainda colaborou com Pedrinho & Sua Orquestra, e Enrico Simonetti.
Em 1962, com vinte e um anos de idade, Menina mudou-se para o Rio de Janeiro e fechou contrato com a Continental Discos, lançando assim seu disco homônimo - e único da efêmera carreira. A canção "carro-chefe" do seu disco de estréia foi o sucesso "Terceira Noite", regravação do sucesso italiano "La Terza Luna", de Neil Sedaka. Além desta regravação, no disco também encontra-se a versão brasileira para o sucesso "Treat Her Right", do grupo norte-americano The Bombshells, e Muñequito de Yara Flores. Além dessas regravações, no disco também contém canções autorais, como: "Coração de Pedra"; "Por que"; "Eternos Namorados" e "Carta de Amor".
Menina de Lourdes ficou conhecida como a "cantora chorona", tanto por causa das letras de suas canções, como pelo fato da cantora ter chorado nas duas noites que apresentou-se para o público carioca no Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A imprensa realizou algumas matérias sobre Menina, mas sempre focava seu talento como algo a ser exaltado por algum futuro marido. Tornando-a numa espécie de modelo. Não sabemos bem qual foi o desfecho de Menina de Lourdes, mas a transição entre o bolero para a jovem guarda, fez com que artistas entre os movimentos comerciais, fossem esquecidos. Principalmente artistas mulheres que tinham seu talento abafado pela questão social de seu gênero sexual.
O fato é que, dentre meus discos favoritos, Menina de Lourdes está entre eles e consegue me transmitir ternura, sofrimento e compaixão. Letras como das canções "Carta de Amor" e "Coração de Pedra", revelam uma cantora delicada, sentimental e apaixonada. Com uma voz suave mas ao mesmo tempo grave. Revelam talvez uma mulher enganada pelo amor dos homens, ou enganada pelos aplausos dos mesmos.
Para quem gosta de bolero brasileiro, ou ficou curioso para conhecer a voz de Menina de Lourdes, você pode descarregar o ficheiro especial, com as faixas: "Coração de Pedra"; "Pisando de Mansinho"; Onde Está a Felicidade" e "Receita pra Ser Feliz", clicando na imagem abaixo:
Enjoy!